Translate

sábado, 11 de dezembro de 2021

Igreja e o universo corporativo


Estou no mundo corporativo oficialmente há 21 anos e na igreja por volta de 20 anos, portanto considero honestamente uma boa experiência em ambos para os comparativos que se seguem.

Frequento, por assim dizer, o mundo corporativo porque tenho necessidades financeiras a cumprir e porque gosto muito do aprendizado tanto técnico quanto a vivência que ele me proporciona.

Frequento a igreja porque sinto a imensa necessidade de estar em comunhão com meus semelhantes e evoluir como ser humano.

Não pretendo entrar em pormenores teológicos aqui, para isso tenho meu blog dedicado.

Amo aquilo que leio e reflito por lá, e para cumprir uma das missões que é ser benção inclusive dentro do mundo corporativo.

Na igreja aprendi a dar aulas, mesmo antes de ganhar dinheiro com aulas no mundo corporativo na maior parte da minha carreira.

A diferença é que na igreja eu fazia e ainda faço por puro amor e voluntariamente. Bem depois que eu curiosamente percebi que os “soft skills” aprendidos são semelhantes, aí arrisquei dar aulas no mundo corporativo e não é que deu certo?

Na igreja aprendi a olhar nos olhos das pessoas e realmente ouvir mais do que falar, pois diz o provérbio “O tolo não toma prazer no conhecimento, mas sim em apenas demonstrar sua opinião”, claro que há exceções lá também, entretanto no mercado corporativo aprendi que muita gente esta mais preocupada em apenas mostrar sua opinião e pouco ouvir, salvo algumas excessões.

No mundo corporativo, em especial em sua rede dedicada, o LinkedIn, percebo que a aparência de algo vale mais que o conteúdo. Tipo power point caprichado, mas com conteúdo pífio nas reuniões, sabe?

Ouso dizer que que postagens bobinhas como: ”coloque joinha se começou a trabalhar antes dos anos 80 e palminhas se foi depois” , tem milhares de vezes mais engajamento do que artigos de reflexões e opiniões.

Não, igreja não é mil maravilhas. São poucas realmente preocupadas em fazer sua missão. Muitas infelizmente se misturaram com o corporativismo no mal sentido, se misturaram com poder político e ganância financeira e perderam em muito a sua essência, não fecho os olhos para isso, luto contra e lamento que seja a posição que mais aparece na mídia.

Mas uma igreja honesta e sincera é um lugar onde o executivo e o faxineiro dividem o mesmo banco. Igreja é um local que surpreende por as vezes um homem ou mulher muito simples na formação, fazer discursos com o coração tão honesto e aberto que fazem qualquer doutor presente chorar de emoção e admirar a experiência de vida.

Curiosamente, apesar do senso comum dizer o contrário, a palavra “Igreja” de origem grega, nunca significou, construção, templo e nem prédio, mas significa quase ao pé da letra “reunião de pessoas”.

E é essa igreja, muitas vezes criticada que vai onde o poder público não alcança em suas ações sociais.

Sou grato a igreja (sem mencionar qualquer denominação específica) por muito do que evolui na vida. 🙏🏻

Carlos Franciscon

terça-feira, 10 de março de 2020

Ser Professor de Escola Bíblica



Sobre ser professor...
Lá se vão quase 17 anos que falei sim para a então diretora de ensino da época, Sandra Panaggio, quando me convidou a dar aulas na escola bíblica.
Na época um desafio imenso, um jovem de 20 anos, ensinando adultos, muitos já de cabelos brancos era algo por demais ousado pra mim.
Aceitei o desafio e desde então, praticamente de maneira ininterrupta, na mesma igrejinha querida, mesma sala e mesmo horário, domingo de manhã, tenho levado o ensino das palavras bíblicas.
Muitos textos de mais de 2 e 3 milênios de idade, mas que nunca envelhecem, conceitos da época do império romano que ainda são vistos como novidades revolucionárias. O desafio de desafiar as pessoas, de sair das letras para a vida, de mudar de atitude.
A liberdade de trazer materiais e formas novas, de reformular planos de aulas, de ousar escrever o próprio material didático por um tempo. Quanto aprendizado! Acredito que aprendi muitíssimo mais do que ensinei nesses anos todos.
As tecnologias de ponta de hoje podem não existir daqui a 10 anos, boa parte das máquinas estarão obsoletas em uns 15-20 anos, mas essas aulas gratuitas aos domingos, com um livro de livre acesso no nosso país, que mudou a história da humanidade e continuará mudando e impactando vidas para sempre, até a volta do nosso amado mestre Jesus. Essas aulas mudam vidas para sempre, não pela força do professor mas pelo poder do espírito do autor da vida.
Soli Deo Gloria

#AmoSerProfessorDeEBD
#EscolaBiblicaDominical

sábado, 21 de dezembro de 2019

Raiz ou Nutella?

Tem sido extremamente complicada a arte da convivência, pois os extremos são cada vez mais distantes e incomunicáveis. Vivemos um período de direita x esquerda, brinquedos antigos x brinquedos novos, copyright x copyleft, android x iOS, He-Man x Ben 10. São batalhas intermináveis para "provar" qual é o melhor.
Nessa toada, um meme que tem me chamado a atenção é o tal: 'Raiz x Nutella", geralmente mostrando algo antigo supostamente melhor e associado à raiz, comparado com algo novo supostamente "pior" e associado ao conhecido creme de avelã.
Será que tudo o que é antigo de fato é melhor?
Sou de uma geração mista, meio tecnológica meio conservadora, nascido em 1983, no interior de São Paulo, não tive nenhum brinquedo muito tecnológico na primeira infância, no máximo algum carrinho com motorzinho DC movido a pilha que eu desmontava para brincar com os imãs. Ouvi alguns LPs do meu pai, mas ainda gravava muitas fitas cassete, quando já comecei a ver o grande "boom" que seriam os CDs nos anos 2000.
Quando comecei no mercado formal de trabalho, exatamente no ano 2000, ouvia muitos comentários dos veteranos trabalhadores das gerações anteriores vangloriando-se de como tiveram uma melhor escola, carros mais robustos, e viviam e aproveitavam a vida melhor que nossa geração. Pois bem, o tempo passou e hoje tenho vivido a mesma tentação de cutucar novos colegas de trabalho das gerações mais jovens com as mesmas críticas as quais outrora fui recebido, mudando apenas o rótulo, todavia com a mesma essência.
Um antigo texto hebraico diz que não é bom dizer que os dias passados foram melhores que os dias atuais*. O autor tinha razão, pois essa é uma tendência destrutiva. Cada geração teve suas falhas e suas virtudes. É o conhecimento dessas características que nos faz andar para frente. Ficar preso no tempo é totalmente nonsense. Tinhamos Cobol, hoje temos Python, tinhamos LPs hoje temos MP3s. O computador que ainda é binário logo será quântico. As coisas têm melhorado mas os relacionamentos não têm seguido a mesma tendência. Como seres humanos, vivemos os mesmos problemas geração após geração: falta de respeito, indiferenças, egoísmo.
Essas características deveriam ser combatidas, mas preferimos gastar nossa energia em embates fúteis sobre quem ou o que é melhor que algo. A não ser que seja algo apenas lúdico, essas brigas são destrutivas se levadas muito a sério.
Acredite, essas brigas de fato têm sido levadas a sério por muita gente 😞
Adoro mostrar Jaspion para meu filho de 4 anos, e digo que ele era tão forte quanto o Ben 10. Curta o velho, aproveite o novo, mas não deixe sua paixão dominar seu bom senso de enxergar o valor das coisas.
Parafraseando Rauzito para encerrar a discussão Raiz x Nutella:

Pois eu prefiro ser um nutella enraizado ambulante...
Por um mundo menos extremista e mais humanizado em todas as facetas do relacionamento humano. 😉

Carlos Franciscon

*o texto hebraico citado é Eclesiastes 7:10, escrito por Salomão.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Os lírios do campo


Certamente essa foto não é de um lírio do campo, mas ilustra muito bem a mensagem que quero passar.
Tirei essa foto no meio do ano, durante uma viagem a trabalho pela charmosa cidade de Lund, na Suécia. Na ocasião eu fazia o trajeto Hotel/Empresa a pé, e nessa caminhada de cerca de 30 minutos eu sempre fazia questao de passar por dentro do belo e bem cuidado Stadsparken, um lindo parque próximo ao centro de Lund.
A ideia inicial de tirar essa foto foi justamente mostrar essa linda flor, mas confesso que meus conhecimentos botânicos são baixíssimos, nem sei o nome dela (Se alguém quiser complementar essa informação nos comentários será muito bem vindo).
Agora porque postei hoje essa foto que foi tirada em Junho? Foi porque eu estava relendo um trecho de um livro muito bom (A sociedade do cansaço, de Byung-Chul Han) onde o autor descreve com muita propriedade a importância e profundidade da contemplação, e de como nossa sociedade moderna está adoentada por simplesmente viver processos e passar os dias a fio sem parar para dar-se o luxo da contemplação.
Lembrei-me então dessa foto que eu havia tirado e, para minha surpresa, ao olhar essa foto, pude contemplar apenas alguns pixels luminosos e inodoros na tela do meu celular, e mesmo com essa limitação sensorial eu fiquei encantado pelos detalhes que eu até então não havia observado na foto e ao mesmo tempo chateado por não ter contemplado todos esse detalhes ao vivo, como esse momento merecia.
Ciente de toda essa problemática da sociedade mecanizada, não pude deixar de me lembrar e me encantar outra vez com uma das expressões mais lindas sobre a importância da contemplação, vinda diretamente do mestre Jesus, em um trecho do evangelho de Mateus, capítulo 6, onde ele diz;

“Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles.”

Portanto, não seja distraído pela hiperatividade da vida, abra espaço para a restauradora contemplação da natureza, contemple a criação e veja os sinais maravilhosos do Deus que se faz presente também nos mínimos detalhes de sua obra.

Desejo um excelente e contemplativo dia!

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Importando "novos" velhos conceitos - O retrato de uma sociedade carente e doente

Minha vida de viagens a trabalho me leva com certa frequência por caminhos interessantes, promovendo não poucas vezes algumas crises e impactos culturais transformadores.
Como alguém com profundo amor pelo evangelho e sua universalidade, despido das vestes religiosas, procuro entender cada cultura e aquilo que as leva a crer no que creem hoje.
Hoje estive remoendo uma inquietação antiga que tenho com o movimento conhecido como “nova era”, que nada mais é do que uma releitura dos movimentos gnósticos dos tempos antigos, porém com uma nova roupagem e linguajar pseudocientífico.
Me chama muito a atenção a forma bastante peculiar como diversas pessoas da nossa sociedade estão em busca de novas experiências de conhecimento. Desde algumas bases da famosa e controversa PNL (programação neurolinguística), certas linhas de coaching, movimentos religiosos de cura e formação de sociedades sem enfermidades, releituras da hipnose, como bem me lembrou o amigo Pr. Pedrosa recentemente em uma conversa, até a interpretação hibrida, meio mística meio científica, de algumas linhas da física quântica.
O que toda essa sopa de conceitos e ideias diversas têm em comum? Me trazem à mente um paralelo com o Israel dos tempos de crise da monarquia. Tempos onde os postes de adoração dos deuses pagãos estrangeiros tomavam os montes e diversos locais por todo o país. Nesses tristes tempos já se percebia uma certa tendência de ignorar conceitos locais e supervalorizar o estrangeiro com suas crenças. Nestes tempos faz muito sentido a história de Naamã, oficial do exército Sírio, curado pelo profeta Eliseu. Reforça muito o fato de que enquanto o povo de Israel desvalorizava sua rica cultura e religião e supervalorizavam cultos pagãos, dentre o povo pagão, aqueles que abriam os olhos sobre o que acontecia com a própria sociedade vinham buscar a cura em Israel.
Vivemos em uma sociedade ocidental, hoje carcomida pelo hedonismo, a busca e satisfação pessoal a todo custo. porém que teve grande parte do seu auge e evolução diretamente vinculadas a história e ética judaico cristã, essenciais para o seu desenvolvimento.
Hoje em dia é muito sofisticado ler, ouvir e deliciar-se com conceitos espirituais importados de grandes mestres orientais oriundos de linhas indu/budistas. Mestres como Osho, Deepak Chopra.
Longe de dizer que são totalmente inúteis em sua filosofia e pensamento, porém a forma como absorvemos seus conceitos pelo simples fatos de serem estrangeiros famosos é no mínimo curiosa. Há uma tendência vinda de uma cultura elitista intelectual de classe média, de buscar novas emanações, e experiências.
Esses conceitos hoje tão badalados, são na verdade uma releitura de muitos pontos do hinduísmo indiano. A história nos mostra alguns fatos interessantes e curiosos, pois essas filosofias que tanto adoramos não serviram nem para amenizar os traumas de seus próprios países de origem. A índia, pais ao qual tive o privilégio de visitar alguns anos atrás, sofre muito. Não apenas da exploração de países ricos do passado como popularmente sabemos, mas principalmente das mazelas espirituais de uma religião que divide as pessoas em castas, cuja mobilidade social é praticamente impossível. Cujos mestres com suas grandes habilidades de isolarem-se do mundo, e propagar a tão badalada “busca interior”. Deixaram o país de origem isolado com suas mazelas para ganhar fama,  dinheiro e muita polêmica na cultura ocidental que os louva e os coloca até mesmos nos palcos corporativos. Lota seus cursos e palestras sobre administração, auto cura, transcendência e diversos assuntos. Poucos, como Gandhi merecem suas atitudes positivas citadas. Muitos são meros oportunistas de fato.
E curiosamente são nesses países, hoje, que o evangelho de Cristo mais cresce.
Nas redes sociais corporativas como o LinkedIn por exemplo, jorram conceitos e palestras transcendentais, novas experiências, palavras como meditação, o conceito de “mindfullness” e outros pensadores antigos como Buda por exemplo. Essas expressões são consideradas extremamente refinadas no meio corporativo. Porém experimente citar palavras e conceitos como: Oração, Jesus, bíblia. Serão taxados de ignorantes e fundamentalistas religiosos em muitas situações.
Não penso que o cristianismo precise de advogados de defesa, pois é um movimento que assim como na visão de Daniel a respeito do sonho de Nabucodonosor, cresce em proporções mundiais. Porém deixo como alerta aos já considerados cristãos o feitiço desses “novos” conceitos, na verdade tão antigos quanto a fala da serpente que prometeu o conhecimento dos “deuses”. As ênfases desses novos movimentos se baseiam em: Eu sou o Deus do meu próprio universo, a crença em um Deus exterior é limitante. Eu mesmo posso manipular minha realidade ao meu favor sem ajuda de “terceiros”. Vide o sucesso que "O Segredo" faz.
Que recobremos a coragem de questionar e não apenar ignorar, abrindo possibilidades relevantes da influência cristã na sociedade atual, para que, diferente da Europa,  o cristianismo não se torne museu. Cito como exemplo a Suécia, belíssimo país, sede da empresa que trabalho, que junto com outros países nórdicos ainda ostenta a cruz de Cristo em sua bandeira. Porém, ironicamente, muitos já se esqueceram da imensa importância do cristianismo por aqui. Uma sociedade agnóstica em grande parte hoje, pois seus antepassados que fortaleceram esse país tão próspero de bases cristãs, não souberam fazer a leitura adequada do tempo e comunicar essa fé saudável às futuras gerações.
É fácil ser agnóstico onde as bases morais já estão bem estabelecidas pelo cristianismo, porém poucos assumem isso.
Que o evangelho, assim como nos tempos de Paulo, no Areópago grego, debatendo e conversando com epicureus e estóicos, volte a ser anunciado com propriedade, que possamos dialogar com as filosofias do presente século com inteligência e não com linguagem de gueto, preso nas paredes dos templos. Que voltemos a falar de Cristo com coragem e poder que só o espírito santo de Deus é capaz de proporcionar.
Graça e Paz!
Carlos D. Franciscon